Parte VI - Márcia Balsas
Acordou com a boca seca. Sentiu uma
pressão forte no braço esquerdo onde, por instinto, levou a mão direita. Olhou
em redor, estava num quarto desconhecido, deitada numa cama enorme, usando um
vestido comprido. Um vestido branco, muito simples, de alças, cintura alta, tão
longo que lhe escondia os pés nus. Ergueu-se, observou a gaze no antebraço e,
tão próximo, no dedo ligado ao coração, o anel.
Uma fadiga súbita obrigou-a a
deitar-se; levou as mãos às fontes para contrariar a pontada repentina. Fez por
se lembrar, apesar de não saber o que procurar na memória. O esforço de unir
pontos, a experiência de seguir pistas, o diabo sempre, sempre nos pormenores.
Anel, brilho, uma caixa que se abre, Paris. O anelar esquerdo numa roda de
fogo. Gonçalo à sua espera no cimo da escada, e depois, o mundo apagou-se.
Aos poucos saiu do que parecia ser
uma neblina. A memória recuperou peças-chave, o constante embalo das ondas
deu-lhe conta de uma localização incerta. Um quarto, ou talvez um camarote
fosse o mais correto, um navio, o mar.
Frio. Abraçou os ombros gelados,
olhou em redor procurando a sua roupa e viu-o. O habitual fato de bom corte, a
recusa da gravata, o olhar sereno. Vitória sorriu, mero instinto, um rosto
familiar é um escape ao desconhecido, mas a memória continuou a juntar pedaços
e o maldito anel a espremer-lhe o dedo. O braço dorido, a gaze, a voz rouca
esquecida de falar. Drogaste-me? Ele, com um sorriso de dentição
perfeita, dois passos na sua direção, mão estendida. Janta comigo, Vitória.
O tom gelado que nunca lhe tinha
percebido, o “convite-intimação” à mesa posta, copos de pé alto, menu mistério
pronto a descobrir, um quarto de casal num navio de carga, ela e Gonçalo
naquele ambiente intimista, cenário agradável não fosse uma prisão. O diabo
sempre, sempre nos pormenores.
— Percebo que estejas confusa, mas
faz-me a vontade, vamos conversar.
Sentaram-se.
— Onde estamos? — a voz dela mais
segura e o olhar astuto procurando uma saída. — Por que razão tenho este
vestido? Onde estão as minhas roupas?
— Não gostas? Fica-te bem. Escolhi-o
para ti.
— Gonçalo, o que queres de mim?
Porquê tudo isto? — ao mesmo tempo olha em redor. — O que está dentro do
pacote? E o que tens tu a ver com tudo isto?
— Eu quero o que sempre quis, que
sejas minha. Quanto ao pacote, será o teu prémio, olha, o teu presente de
casamento. Aceitas?
Vidas, muitas vidas. A
minha vida…
Vitória pensou na oportunidade que
teve de abrir o envelope, mas cega cumpriu a sua função, o peãozinho obediente,
braços protetores de uma bomba que acabou por lhe explodir no colo. Se ao menos
o tivesse feito, deixado de lado as regras, o seu profissionalismo obtuso, o
fazer tudo bem… E Isabela? Porque a escolhera para uma missão em que era
claramente uma peça do jogo?
Vitória sentiu a sua vida apertada
contra o estômago, completamente entregue ao desconhecido.
Um estoiro roubou-a dos pensamentos.
Gonçalo servia o champanhe. De pé, estendeu-lhe o copo. Um brinde,
pediu.
Vitória aceitou o copo, permaneceu
sentada, olhou-o fixamente.
— A lista. É de ti que temos de
proteger os nomes da lista.
Vidas, muitas vidas. A
minha vida…
Agora fiquei confusa hahahaah e nao era o que estava a espera, mas isso é bom porque fui surpreendida ;D
ResponderEliminarConfusa? Surpreendida? Óptimo 😇
EliminarGostei muito, Márcia. Voltamos a encontrar a Vitória do início e o mesmo registo de escrita. Sente-se vontade de voltar à história e de lhe dar corpo. Nunca li nada teu, mas fiquei com muita vontade 😊
ResponderEliminarQue bom Jô. Obrigada ☺️
EliminarMais uma reviravolta 😁 estou a gostar bastante
ResponderEliminarÓptimo 😁 daqui até ao final a viagem tem mais surpresas.
EliminarSerá?!?! O ex namorado quase noivo, o vilão desta história??🤷♀️
ResponderEliminarIsso agora... É com os colegas que se seguem. 😁
EliminarUma reviravolta vamos ver onde nos leva. Parabéns Márcia.Patricia Barbosa
ResponderEliminarObrigada, Patrícia 😊
EliminarOh pá… vamos continuar está cada vez melhor! Bom trabalho Márcia.
ResponderEliminarAgradecida 🙏🙂
EliminarAchei particularmente interessante este capítulo, pois oferece-nos uma contextualização e o ponto da situação do conto. A história avança e cada capítulo é uma surpresa 😊👍
ResponderEliminarMuito obrigada, fico feliz.
EliminarMuito bom, estou adorar
ResponderEliminarBoa! 😃
EliminarFiquei surpreendida pelo twist na história.. Muito bem conseguido. Cada vez com mais curiosidade. O Gonçalo, o homem perfeito para Vitória é afinal o vilão da história? Afinal para que lhe serve o tão importante pacote?
ResponderEliminarHum... É continuar... Eu não posso contar eheh
EliminarMais um twist. Estou completamente envolvida nesta história e super curiosa com o que vai acontecer. Não consigo parar de ler!!
ResponderEliminarBom saber, para nós que escrevemos isso é tudo. Boa leitura.
EliminarAiiiii adorei Márcia 😍 muitos parabéns!!!
ResponderEliminarObrigada. Adoro que adores 😇
EliminarCada vez mais confusa mas também curiosa com o enredo. Parabéns!!!
ResponderEliminarParabéns, Márcia!!!
ResponderEliminarAdorei. Mais uma reviravolta!
👍👏
ResponderEliminarAinda não tinha pensado no Gonçalo, mas sim, no colega Pedro.
ResponderEliminarQue reviravolta. Muito bom.
Cada capítulo é uma agradável surpresa. E que mais vai acontecer...
Mais uma reviravolta?! Super curiosa!
ResponderEliminarUm ex-noivo mafioso???? E agora como é que ela se vai safar? 🙄
ResponderEliminarUi! Que reviravolta! Adorei, Márcia!👏
ResponderEliminarCom tanta reviravolta, já só penso como é que isto já está quase a acabar! Que trabalho incrível :D
ResponderEliminarPensei nesta hipótese do bandido ou suposto bandido ser o Gonçalo, mas não estava nada à espera deste novo twist. Gostei muito.
ResponderEliminarA adorar a vossa história.
Parabéns!
Então o criminoso que queriam apanhar era o Gonçalo, o ex noivo da Vitória. Estou é cada vez mais curiosa por saber o que realmente está no embrulho.
ResponderEliminarFoi uma boa continuação. Gostei da escrita cuidada da Márcia. Já comprei o teu livro e está na estante para ler... vai a seguir...
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